Por: Jonas Carreira
Se perguntarmos a qualquer pessoa sobre a Primeira Guerra Mundial, a maioria dirá que foi uma guerra de impérios, uma guerra imperialista. Foi um contexto de disputas entre nações que culminou em uma grande guerra que redesenhou a geopolítica até os dias atuais. A Primeira Guerra Mundial representou o fim de uma era que teve início no século 17 com o colonialismo e imperialismo modernos e o início de outra era que vivemos até hoje.
O movimento sionista, por exemplo, se expandiu durante a Primeira Guerra Mundial e teve um papel relevante na criação dessa nova era pós-Primeira Guerra com a Declaração de Balfour (1917), na qual o governo britânico expressou apoio à criação do Estado Judeu na Palestina. Isso gerou um impulso dentro do movimento. Vale ressaltar que foi durante a Primeira Guerra Mundial que o Império Otomano entrou em colapso e deixou de controlar a Palestina, abrindo caminho para os britânicos dominarem a região, favorecendo a imigração judaica e a expansão sionista.
Foi durante a Primeira Guerra Mundial que os EUA deram início à sua expansão como potência global. A guerra impulsionou a economia americana e mudou a política externa da nação, tirando os EUA do isolacionismo internacional e colocando o país como líder na ordem internacional. Essa mudança se consolidou após a Segunda Guerra Mundial. É importante notar que a Segunda Guerra Mundial pode ser vista como uma continuidade da Primeira, considerando os tratados e questões não resolvidas que persistiram entre os conflitos.
Como podemos observar, a Primeira Guerra Mundial e, consequentemente, a Segunda Guerra Mundial foram ocorrências que serviram como uma espécie de estabilizador da nova ordem que estava em ascensão. Uma nova ordem internacional estava sendo gestada pela antiga ordem, que participou do "big bang" do sistema surgido mais precisamente na Europa Central e se expandiu impulsionada por sucessivas guerras e por aquilo que costumo chamar de "energia escura" do sistema: o racionalismo cristão - forças físicas e expansivas que criaram o sistema econômico que vivemos hoje. E hoje? O que podemos pensar sobre uma possível Terceira Guerra Mundial na atual conjuntura?
O momento atual é diferente do contexto da Primeira Guerra Mundial. Embora a Primeira Guerra tenha ocorrido em meio a uma disputa entre impérios, ela foi contida dentro do próprio sistema, e os acordos eram feitos para a manutenção do sistema. A ascensão dos EUA foi planejada pelos anglo-saxões. Hoje, existe um outro universo em rota de colisão com o universo ao qual estamos acostumados: a ascensão multipolar e a crise da ordem unipolar. A multipolaridade não é nova na ordem internacional que vivemos; o sistema westfaliano é a prova disso. O novo nessa multipolaridade é o sistema racionalizador oriental, ou seja, uma outra energia expansiva - ou não. Isso torna a Terceira Guerra Mundial algo difícil de analisar, mas não inimaginável de acontecer, se lembrarmos que a antiga ordem historicamente precisou de guerras para se expandir e se estabilizar.
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